Raabe entrevista: Pioneer Ákira Avalanx West
Conversamos com a Ákira,
Mulher trans, afrodescendente, mineira e Pioneira da Cultura Ballroom.
Ákira é produtora, reconhecida nacionalmente e atuante no estado de São Paulo, onde reside. Começou nas danças urbanas em 2009 e se aprofundou na Cultura Ballroom no ano 2015.
É criadora do Projeto Vogue for Life já feito pelo Sesc e ONGs autônomas, responsável pela House of Avalanx, existente em SP, MG, RJ, CE, e representante da House of West no Brasil.
Atualmente ministra aulas, palestras e está na bancada de Jurades de várias Balls. MC de eventos em todo o Brasil com a temática Ballroom, onde fala sobre a importância de corpos trans periféricos e de mulheres nos espaços.
E hoje ela conta um pouco da sua história enquanto um dos nomes mais importantes da cena brasileira.
Como você conheceu a Cultura Ballroom?
Já dançava em 2009 quando morava em Minas Gerais, e nesse meio conheci o Vogue. A primeira pessoa que vi fazer menção ao Vogue foi a Fran Manson, e em um evento que fui fazer aula dela mas não rolou, acabou rolando uma do Assiny do RJ e foi voltada para o Vogue. Mas eu nem tinha ideia da dimensão do que seria aquilo na minha vida. Depois de uns anos já morando no interior de SP, Campinas, que aí em 2015 estive na primeira edição do Vogue Fever em BH, que foi produzido por Lipstick, Oladi e Pedro, onde veio o Archie e aí sim tive uma ideia maior. A partir disso comecei a conhecer o que era Ballroom por buscar saber mais com pessoas como Félix, Kona, Luana, que tinham uma ideia do que era, e as vezes com pessoas de fora do BRA. Porém em 2016 que vi algo se consolidando de verdade em alguns locais.
Como foi pra você todo esse processo de transição?
Meu 1° contato com uma mulher T foi 2016 na Ball ataque, onde vi Danna Lisboa, lembro que quando a vi perguntei o que a Leiomy tava fazendo aqui no Brasil rs... Depois, 2017 foi Kira de Brasília, porém quando vi realmente o que era ser uma FQ dentro da cena Ball foi ainda em 2017, quando Makayla foi anunciada Revlon e ganhou Drama no Fever, era algo grande mas que eu ainda não entendia. Depois disso me aproximei mais de outras e sem ver fui me encaminhando pra esse processo que hoje em dia digo que iniciou em 2015, outras pessoas viam mas eu fui ver em 2018 pra poder aceitar. Foi complicado no sentido de estar sem trabalho, morando de favor, não saber como lidar com essas mudanças por não estar tendo acompanhamento, por ter um relacionamento abusivo, por desforias mas acredito que esse processo logo de início já me ajudou a abrir muito os olhos.
Você sente um apoio / papel da cena em sua transição?
Sinto um papel, por que através dela eu conheci e tive contato com outras meninas, alguém que veio de Minas e nem sabia o que era drag, só tinha uma noção do que era o G e o L, e nem entendia o que era o T. Porém também vem aquela cobrança sobre performance de uma FQ, sempre estar no topo, ser sempre a mais esperada. Apoio eu tive de pessoas específicas da cena, as mais próximas mesmo.
O que é ser uma FQ pra você?
Acho que dizer: "são mulheres trans e travestis da cena..." é muito superficial, acredito, como minha filha Lia diz: É uma atitude, ser uma FQ é uma atitude, uma performance, acredito que entender realmente essa construção é viver lá fora onde surgiu, NY, entender aquilo, assim como eu vi Makayla pela primeira vez performando aquela atitude, aquela vivência.
Como você lida com toda a expectativa que as pessoas da cena colocam em cima de você como FQ?
Como pioneira, mother, e representante main house?
Acho que esse é um dos motivos de não estar nos grupos de whatsapp, porque sempre esperam um posicionamento, e sinto que os elogios como "nossa você é maravilhosa, você é linda, você é uma Deusa, sua performance é isso e aquilo" dão aquela sensação de estar sempre sendo cobrada, "ai, se eu aparecer feia vou ser mal falada, e isso e aquilo"... E é complicado essa expectativa que muitos têm conosco, até por que FQ erra também, e questionar é válido lembrando da forma que você questiona: "nossa, Ákira, senti sua performance ruim hoje, tá tudo bem? Rolou algo?", "nossa, Ákira, essa fala sua me pareceu um pouco agressiva, queria entender melhor sobre seu ponto de vista."
Quais dicas você dá para pessoas que estão chegando na cena agora?
Tenham paciência, nem tudo se conquista no grito. Não levem tudo para o pessoal. Nem sempre o shade é ruim, às vezes é um toque. Estudem de VERDADE, performar é bom mas tem outras coisas e vocês estão vivendo com os pioneiros disso tudo, por que não buscam informações com eles?
Mídias:
House of Avalanx:
https://www.youtube.com/channel/UC62J50DdRJKrvM0_HqCNa0g
https://www.instagram.com/houseofavalanx/?igshid=kt5eyuj3ig1o
Instagram:
https://www.instagram.com/akira_avalanx/?igshid=dgw38ngrsvht
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Entrevista por: Pioneer Karoline Raabe
Revisão: Thaís Andrade