Raabe entrevista: TRIO LIPSTICK
O Trio Lipstick (BH) é um grupo de performance, pesquisa e produção de Belo Horizonte composto por Maria Teresa Moreira, Paula Zaidan e Raquel Parreira. Elas dedicam seus trabalhos e estudos ao Vogue e a cultura Ballroom desde 2011, atuando como professoras, performers e juradas em eventos de todo o Brasil. Em 2015, criaram o primeiro festival internacional de Vogue do país, o BH Vogue Fever.
O BH Vogue Fever é realizado anualmente na cidade de Belo Horizonte/MG que reúne estudantes e artistas nacionais e internacionais interessados nessa cultura, promovendo um intercâmbio de vivências entre os participantes. Sua programação conta com seminários, oficinas práticas e teóricas e uma noite de performances, conhecida como "Ball" ou Batalhas de Vogue.
Como vocês conheceram a cultura Ballroom?
Em 2009, Paula Zaidan fez uma viagem para NYC e lá teve contato com a dança Vogue através dos professores Benny Ninja e Archie Burnett. Voltando para BH, nos reunimos em um grupo de estudos sobre Vogue, com treinos práticos e teóricos. Nestes encontros assistimos Paris is Burning e How do I look e entendemos um pouco da cultura que Vogue estava inserido. Mas a nossa imersão na cultura Ballroom de fato se deu em janeiro de 2015, em uma viagem que fizemos juntas a NYC e tivemos a oportunidade de ir em diversas Balls, conhecer de perto agentes da cultura, DJs, MCs, dançarinos e entender um pouco mais sobre esse universo maravilhoso.
Como se uniram e o que é o Trio Lipstick?
Nos conhecemos em 2006. Dançavamos juntas em um grupo de hip hop e lá fomos nos aproximando, criando uma amizade forte. Ao longo do tempo foram rolando viagens, workshops e possibilidades de conhecer outras linguagens dentro das danças urbanas e, em 2008, tivemos contato com as danças consideradas na época como “femininas”: o waacking e o vogue. Com o retorno da Paulinha de NYC em 2009 começamos a aprofundar os estudos sobre Vogue, Waacking e Stiletto e em 2011 resolvemos criar o Trio Lipstick.
O Trio Lipstick começou como um grupo de performance. Três meninas afim de treinar e estudar afundo as linguagens do Vogue e Waacking, criando coreografias que usavam exclusivamente esses estilos, explorando a feminilidade em cima do salto alto. Hoje isso pode até parecer normal mas ha 10 anos atras era revolucionário três meninas assumirem essa identidade artística dentro do universo das danças urbanas. Ao longo do tempo, aprofundando os estudos e vivências na cultura Ballroom, o trio também se inseriu no universo da produção cultural e hoje produzimos alguns eventos pelo Brasil, o mais conhecido deles, o BH Vogue Fever.
Como foi o primeiro, e qual é a diferença entre ele e o último?
O primeiro BH Vogue Fever foi uma farra deliciosa! Era tempo de aprender a fazer, se arriscar, brincar com as possibilidades que tínhamos e experimentar. Rolaram várias aulas práticas e teóricas e fomos aprendendo juntes como fazer. Lembro até hoje da Ball lotada, váries dançarines que hoje são super reconhecides e pioneires na Ballroom BR se arriscando pela primeira vez, platéia aos berros quando cada um entrava para batalhar. No final o êxtase foi tão grande que a festa rolou até o amanhecer. Uma experiência muito iniciante, experimental e divertida.
Hoje as coisas são beeem diferentes. O primeiro BHFV devia ter umas 16 pessoas disputando as categorias. Na Animalia Ball arrisco dizer que tinham uma média de 100 a 120 participantes no total. Em 5 anos tudo mudou muito!
Hoje temos muito cuidado com cada detalhe da produção. Reconhecemos a nossa responsabilidade enquanto produtoras e sabemos o quanto o evento faz diferença na vida dos participantes. Temos muito cuidado ao selecionar os artistas convidados, ao criar cada categoria, definir o tema, garantir a segurança de todes, etc. O evento cresceu, os custos aumentaram, e as responsabilidades também. É incrível acompanhar esse crescimento e ver a força que a cultura Ballroom tem hoje no Brasil e Am. Latina.
Por que demorou tanto tempo para criar uma kiki house de vocês em BH?
Hmmm… Esse processo foi todo bem complexo. Em toda nossa caminhada de entender e aproximar da cultura Ballroom nós sempre tivemos muito cuidado em cada passo e decisão. Era um sentimento comum o medo de falhar, desrespeitar ou “fazer algo errado” dentro da cultura. Em 2016 várias Kiki houses estavam surgindo no Brasil/Am. Latina e acho que a pressa junto com uma pitada de imaturidade nos fez embalar nesse movimento de criar uma house. Não precisou de muito tempo e ela estava fechada por diversos problemas internos.
Neste momento entendemos a responsabilidade e o cuidado extremo que significa criar uma House e carregar o título de Mothers. Por isso o movimento de criar House of Barracuda foi lento e muito cuidadoso e hoje sinto que estamos mais preparadas para assumir esse título.
Sabemos que o BHVF sempre é usado de uma forma política, com os temas refletindo o que está em alta e/ou sendo discutindo no momento em nosso País. Vocês podem contar pra gente alguma coisa do próximo BH?
Acreditamos que o BH Vogue Fever é um espaço potente para levantar questões sociais e políticas urgentes. Cada categoria trás uma expressão artística diferente, cada corpo que sobe no palco trás um grito. São resistências pulsantes representadas em cada look, cada dip, cada detalhe. É possível ver a transformação nas reações do público em cada ano que passa, a postura muda e o respeito começa a se tornar palavra de ordem. O próximo não será diferente, claro. Mas ainda não temos muitas informações para divulgar.
Alguns dias antes de estourar a pandemia do Covid-19, estávamos com tudo pronto para lançar a data e começar os trabalhos de divulgação. Agora já não sabemos exatamente como será o retorno das atividades normais do Brasil e do mundo e precisamos ter muito cuidado em todo esse processo. Estamos trabalhando diariamente e entendendo como vamos seguir neste contexto de muita incerteza, mas garantimos que será uma edição inesquecível!
Mídias:
TRIO LIPSTICK: https://www.youtube.com/watch?v=9xPg3cNTxyE
BH VOGUE FEVER: https://www.youtube.com/channel/UCgRneAZuLkdQv5Ez4l9VwvA/featured
HOUSE OF BARRACUDA: https://www.instagram.com/houseofbarracuda_/?igshid=1erlqjg5b407l
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Entrevista por: Pioneer Karoline Raabe